segunda-feira, 29 de junho de 2015

Oficina dos Livros Proibidos (A) - Eduardo Roca


Atribui-se a Johannes Gutenberg, no século XV, a invenção da imprensa que de facto foi um dos inventos que veio revolucionar o mundo, pois e até aí os livros que existiam eram produzidos por copistas e um exemplar demorava bastante tempo a prouzir, pois era tudo feito à mão. Dessa forma os livros simplesmente não circulavam e os que havia ou pertenciam ao clero ou então eram propriedade dos grandes senhores que, na maior parte das vezes, os mandavam fazer apenas com um sentido ostentatorio da sua posição, ou seja, nem sequer os liam.

A imprensa veio alterar todo esse cenário, porque permitiu mais cópias em menor tempo e, sobretudo, porque tornou essa produção mais barata, logo, é a partir do século XV que o livro começa a circular mais amiúde o que, obviamente, vai ter imensas repercussões no campo da cultura e da evolução das sociedades.

A obra do catalão Eduardo Roça situa-nos precisamente nesse contexto, dando-nos uma excelente perspectiva do modo de vida na Europa renascentista e, sobretudo no aspecto em que a sociedade europeia estava formada sob o jugo das forças opulentas do clero, dos grandes senhores e de um povo subjugado pelo medo e pela ignorância.

A época em si era extremamente violenta, cheia de contrastes que não nos deixam de chocar, no entanto e como em todas as épocas, surgiam homens decididos a arriscar a sua vida em prol de um futuro melhor para a humanidade e do progresso. Se não fossem esses homens e mulheres, alguns deles que morreram nas fogueiras da inquisição, provavelmente hoje em dia ainda assistiríamos a um controlo insano da parte da igreja sob tudo aquilo que consideravam ser prejudicial aos seus interesses e o mundo não tinha evoluído.

Lorenz Block é um ourives viúvo que vive só com a sua filha adolescente. Embora seja ourives, Lorenz tem um imenso amor pela escrita o que o leva a inventar uma espécie de máquina que está na origem da prensa. Consciente da importância do seu invento, Lorenz tem também consciência que tal invento pode ser visto com desagrado pelas forças da cidade e, sobre um enorme secretismo, desenvolve a máquina de impressão mecânica, até que recebe, por intermédio de um desconhecido, uma encomenda de um livro de Aristóteles que deve ser produzido em apenas alguns dias, feito que ele consegue. No entanto a encomenda seguinte é um livro proibido e algo corre mal...

É um livro sobre livros e essencialmente um livro sobre a capacidade do Ser Humano em acreditar no progresso e no desejo em que a cultura esteja disponível a todos e não confinada em bibliotecas dos mosteiros ou particulares. Para quem gosta de livros, é efectivamente um livro que dá gozo ler, não apenas pelo objecto livro como também pela descrição do contexto histórico, isso foi o que mais apreciei e considero o livro muito bem conseguido. 

No entanto não é perfeito e já não gostei tanto da forma como vários personagens foram evoluindo, algumas delas com uma evolução sensaborona e, a meu ver, descuidada, sem grande sentido, um pouco como se o autor se tivesse fartado delas e simplesmente, dando-lhes um final mal conseguido. Depois também considero o livro um pouco repetitivo em alguns aspectos. Não os vou mencionar, mas, às tantas, parece que estava a ler cenas já ocorridas e que pouco sumo tinham, não levando a lado nenhum.

Em todo o caso é um livro muito bom que aconselho aos amantes dos livros e do género romance histórico, pois dá-nos de facto uma excepcional perspectiva da Europa dessa época.

domingo, 21 de junho de 2015

Diz-se que a Feira do Livro de Lisboa

foi este ano bem melhor, ao nível das vendas, do que em 2014.

Num artigo do jornal "O público" são questionadas várias editoras, as maiores, claro, sem que nenhuma delas avance com valores facturados.

Sim senhor, clap! clap! O pessoal, agora que a crise acabou, volta a comprar à maluca e em 2016 ainda vai ser melhor. 

Mas nesse mesmo artigo não se menciona os alfarrabistas, os verdadeiros amantes do livro e aqueles que mereciam destaque, pois são cada vez menos e os únicos que percebem que um livro é algo mais do que uma mercadoria.

Aliás (um pequeno à parte), gostava de saber quais os critérios de contratação dos funcionários que se encontram nas barraquitas das editoras (muitos que lá se encontram há anos), pois a maioria percebe muito pouco do que é suposto estar a vender, mas enfim, factor C e carinhas larocas.

Mas e voltando aos Alfarrabistas, cheira-me que para estes não correu melhor do que no ano passado. Qualquer dia, para além das barraquinhas das farturas, cachorros quentes, hamburgues, gelados e afins fast-foodiano anafados, teremos apenas as barraquitas das grandes editoras e grupos editoriais com os seus "leve 3 e pague 2".

sábado, 20 de junho de 2015

Segundo Varoufakis

o atual ministro das Finanças do Governo Tsipra, se a Grécia sair do Euro a seguir sairá Portugal e depois a Itália.

Pessoalmente, digo: "força, quero lá saber." (para não dizer outra expressão mais vernácula).

Sei que durante alguns anos será complicado, mas estou farto de ver o país refém das instâncias internacionais que nos andam a sugar até ao tutano sem que consigamos ver qualquer evolução, pois e após resgate após resgate, mesmo depois de pagarmos com juros, continuamos com essa ameaça. Por isso, quanto mais cedo sairmos, mais cedo resolveremos esta situação.

Ponham os olhos na Islândia. Sei que não temos a mentalidade deles, mas pelo menos serve de estudo de caso para que os nossos incompetentes políticos possam se entreter a analisar.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Dispara, Eu Já Estou Morto – Júlia Navarro



Nesse seu último romance, Júlia Navarro, que já percebi ter um estilo ou seguir uma forma de estrutura literária muito semelhante em todos os seus livros, vai novamente buscar a problemática do fanatismo e intolerância religiosa (já levantada no livro “O Sangue dos Inocentes”), erigindo um excelente romance histórico que nos dá uma clara percepção do problema Israel/Arabe/Palestina e sobretudo narra-nos como tudo começou e porque chegou ao estado actual.

E, pese embora ela dê vários saltos temporais como forma de nos situar, a verdade é que todos eles ligam muito bem, sendo, desta forma e na minha opinião, o melhor romance desta escritora, porque e embora possamos considerar num estilo algo light, a verdade é que, para além de nos entreter, vai-nos dando autênticas lições de História que nos fazem perceber a situação actual e do passado.

E a narrativa inicia-se na Rússia do final do século XIX quando os pogroms varreram a comunidade judaica nesse imenso país. É aqui que a imigração judaica, a grande maioria obviamente forçada, tem inicio e que mais tarde vão acabar por confluir na sua terra prometida: Israel. Muitos judeus conseguiam fugir com muito da sua riqueza e quando chegavam a Israel uniam-se em comunidades (kibutz), comprando essas terras aos próprios palestinianos que, sedentos de riqueza, as vendiam sem querer saber que futuro estavam a traçar. Essas comunidades, que eram erigidas junto a terras ocupadas por palestinianos, obviamente que floresciam fruto do trabalho conjunto da comunidade e rapidamente se sobrepunham em riquezas o que acabava por originar um mal estar junto dos palestinianos que, aos poucos, começaram a olhar para essas comunidades com inveja e temor. 

Após o fim da Segunda Guerra, os Judeus fartos de serem perseguidos e assassinados ao longo da História, iniciam uma enorme diáspora para Israel e é a partir daí que, definitivamente, tudo começa a descambar na violência que chegou até aos nossos dias.

A autora consegue traçar-nos todo este percurso assente numa série de personagens de fortíssimo caracter que nos fazem ver e sentir ambas as partes do conflito, pois e note-se, ela nunca toma o partido de ninguém, limita-se a colocar os factos de ambos os lados do problema, deixando para o leitor as conclusões que se devem, ou não, tirar.

Foi um livro que me deu imenso prazer ler, pese embora tenha achado alguns pontos que me tenham desagradado e que, depois ter já ter lido três livros de Navarro, penso ser algo onde ela tem de trabalhar mais arduamente. Ou seja, na ânsia de narrar um conjunto enorme de eventos, ela vai deixando muitas pontas soltas que, simplesmente, não se dá ao trabalho de as colar. Houve acontecimentos que me deixaram estarrecidos e que julguei ir ler mais à frente o seu epilogo e, debalde, continuo à espera…

Folgo em ver que Júlia Navarro enveredou definitivamente por este estilo de romances, pois penso que tem muito mais a dar à literatura com este estilo do que com os romances policiais que antes escrevia. Faço tenções de ler o seu grande sucesso policial, mas este é um estilo onde ela acaba por aliar o histórico com o policial, revelando-se uma autora de leitura compulsiva cujos romances possuem um conteúdo muito interessante.

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Sangue dos Inocentes (O) – Júlia Navarro


Sou espião e tenho medo...

Assim começa uma obra que prometia muito mas que nos deixa com uma sensação que podia ser melhor explorada, não apenas ao nível do seu conteúdo narrativo, como igualmente ao nível do conteúdo histórico que, quanto a mim, podia e devia ter sido melhor aproveitado.

Mas vamos por partes.

A premissa deste terceiro título de Júlia Navarro, que é uma verdadeira campeã de best-sellers e que eu, confesso, apreciei os dois romances que havia lido para além deste, é bastante apelativo o que, por si só, me fez pegar no livro.

A autora começa por nos situar no século XIII aquando do cerco de Montsegur pelos Cruzados. Utilizando um personagem fictícia que serve de fio condutor a toda a narrativa (Frei Julián), as primeiras páginas são bastante empolgantes e de leitura compulsiva. A partir de uma certa altura, a autora dá um salto temporal até 1939 onde nos deparamos com um investigador que tem acesso à crónica de Frei Julián. Estava-se em pleno início da Segunda Guerra, numa Europa profundamente dividida que deixava antever o terror que aí vinha. Essa Segunda parte também gostei bastante, sobretudo do personagem do investigador que analisa a fundo a crónica de Frei Julián. Posteriormente novo salto temporal e, já nos nossos dias, a autora, obviamente tendo como elo de ligação, embora já algo ténue, a tal crónica do século XIII, dá-nos uma perspectiva de vários atentados que estão a ser planeados por grupos extremistas árabes e também por alguém que pretende vingar o sangue dos inocentes.

E confesso que é essa terceira parte que me fez esmorecer do livro porque a achei bastante forçada e, a meu ver, a autora tinha imenso campo para conduzir a história por outras direcções.

Desde o século XIII, dessa tal perseguição aos Cátaros, a 1939 e até aos nossos dias, obviamente que sobressai o fanatismo e a intolerância religiosa. De facto é aqui que está o fulcro do romance, é nítido a intenção da autora em fazer-nos ver que fanatismo e intolerância é algo comum em todas as religiões e não apenas de uma e que a forma como os muçulmanos fanáticos vêm o mundo e leem o Alcorão, os Cristãos já o fizeram séculos atrás. Na prática é a essência do Ser Humano que vem ao de cimo no aspecto da intolerância em compreender e respeitar o seu próximo.

Desta forma o livro acaba por cair num ritmo algo repetitivo e em acontecimentos previsíveis, ou seja, a partir de certa altura a história torna-se bastante previsível e o desenlace é de todo muito mau engendrado, ficando uma série de pontas soltas ou, se quiserem, factos por explicar.

Por outro lado achei curioso estarem aqui várias sementes do último livro da autora, “Dispara, Eu já Estou Morto”, esse sim, um livro muito bem construído e com um conteúdo, do principio ao fim, coerente e muito interessante.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Lisboa é linda!



Agora que está a chegar os santos populares em Lisboa, a minha Lisboa, a minha cidade que, agora que moro fora vejo que está muito enraizada no meu Ser, faz parte da minha essência, mas enfim, saudosismos à parte e agora que está a chegar a noite de Santo António, questiono: porquê que as televisões só mostram Alfama quando falam nos Santos populares de Lisboa?

Não me venham com tretas dizendo que é o bairro mais popular, Há outros bairros onde se festeja os santos e não ficam nada a perder para Alfama.

Pode ser considerado, de facto, o bairro mais antigo de Lisboa (eu discordo), mas e os bairros da Graça (o meu bairro), Mouraria, Castelo, Alcântara (vivi lá três anos), Alto Pina, São Vicente de Fora e outros?

Adoro sobretudo Lisboa no seu conjunto, para mim não há bairrismos. Sinto-me bem assim que me aproximo de qualquer das pontes e entro em Lisboa e sinto-me triste quando saio.
Lisboa é linda e única. 

Agora percebo quando se diz que Portugal é Lisboa e o resto é paisagem. Por muito que custe, é assim mesmo e só vivendo lá se compreende isso.

Lisboa é linda e o Santo António a sua festa por excelência!