segunda-feira, 23 de julho de 2007

Jogador (O) - Fedor Dostoievsky

Neste romance, escrito em apenas 15 dias, Dostoiévski cria Alexis Ivanovitch, preceptor de uma abastada família russa que, em jeito de memórias, relata os acontecimentos em que se viu envolvido numa cidade alemã chamada Ruletemburgo. Á roda dessa família, giram outros excêntricos personagens que acabam por ter alguma relevância em toda a acção. Mlle. Blanché, amante do general (patrão de Ivanovitch), mulher interesseira que gosta de se expressar na sua língua materna (francês). Um inglês que tem um papel algo dúbio, até para o próprio Ivanovitch. Outro francês (De Grillet), personagem sui generis na sua forma de agir e, finalmente, uma velha avó de quem todos esperam notícias da sua morte e que, repentinamente, resolve aparecer em Ruletemburgo para espanto de todos, principalmente do general.
E é nessa senhora que tudo verdadeiramente começa. A velhota pede a Ivanovitch que lhe mostre a sala da roleta e que lhe explique as regras e, ele ao fazê-lo, dá oportunidade à senhora para jogar... depressa ela se vicia no jogo.
É o ponto de partida para o fascínio da roleta. A ânsia dos números que saem, o perde e ganha de dinheiro, o convencimento e certeza que "é agora que sai", o bichinho que os impulsiona, que os atira para a mesa, que os leva a sonhar com riquezas inimagináveis.
Jogador inveterado da roleta, Dostoiévski faz deste romance uma espécie de exorcismo de um vício que quase o levou à ruína. Inclusive, sabe-se que este romance foi escrito para pagar dívidas de jogo. Aqui e baseado numa experiência pessoal, ele faz-nos sentir toda aquela ânsia, toda aquela obsessão, aquela compulsiva necessidade de jogar, da crença que vai sair, de que por muito que se ganhe, é sempre possível ganhar mais, e mais, e mais... Todas essas sensações, a descrição de tal vicio está brilhantemente explicado e é engraçado também verificar a semelhança entre este vício e o vício da droga. Embora noutra perspectiva, a semelhança é notória. Também de notar a forma clara, aberta e honesta como Dostoiévski descreve todo esse sentimento, demonstrando que este vício é um problema muito sério.
Nesse aspecto, o livro ganha claramente importância e relevância dada a forma como aborda a questão. Quanto ao resto e olhando para a estória que gira em torno do assunto, penso que nada de positivo traz, descrevendo um arrastar das personagens acima mencionadas, cheia de relações humilhantes e absurdas.
Negativo também o exagero das frases em francês. Para quem não tenha conhecimentos de francês, é extremamente complicado seguir o texto, ou se quiserem, alguma partes que acabam por ter alguma importância na estória.
Em suma: Uma viagem guiada a um mundo de vício e perdição. A um mundo ilusório, uma doença onde o prazer se confunde com a dor, descrito por um homem que sofreu na pele os malefícios desse mal.

1 comentário:

Anónimo disse...

Poderemos também comparar com o vício do álcool, porque não? Sobretudo pode ser uma crítica às adições, actualmente muito dissimuladas. Repito o actualmente, pois foi isso que me fascinou: a actualidade da crítica.
E quinze dias! É de génio!