terça-feira, 20 de abril de 2021

Holocausto Brasileiro - Daniela Arbex

 

Ao longo da minha vida li milhares de livros, sendo que um dos meus temas predilectos é História, ou seja, livros que analisam diferentes épocas da Humanidade sob vários pontos de vista e à luz de descobertas arqueológicas ou registos da época.

Dessa forma, e depois de ler muito sobre a evolução da Humanidade, cheguei, há muitos anos, a uma conclusão: O Ser Humano, na sua essência, é pérfido, mau, egoísta e a sua inteligência fá-lo cometer actos de uma atrocidade insana que não se vêm em qualquer outra espécie do planeta nos últimos quinze mil milhões de anos, ou seja, desde o seu início.

Quando se aborda o Genocídio Nazi, e vejo tanta gente, que acredito estar a ser sincera, chocada com o que se sabe, costumo sempre dizer que esse genocídio não foi único na História da Humanidade e, mais grave, não vai ser o último a essa escala. Outros houveram igualmente graves e outros irão suceder e porquê? Porque o Ser Humano não presta, os seus instintos são primários embora mascarados de racionais.

Posto isto, honestamente, não me surpreendeu em nada o que fui lendo neste Holocausto brasileiro.

O quê? Um local onde colocavam os indigentes, os excluídos da sociedade, os doentes, para ali serem deixados para morrer, sofrendo maus tratos e sobrevivendo como animais?

Um local onde as famílias abandonam os seus entes, para ali ficarem a vegetar?

Meus caros e caras, isso é mato na Humanidade!

E digo mais: Sempre existiu e sempre vai existir locais desses que, um dia, são descobertos por qualquer curioso ou jornalista e depois vira notícia e escândalo.

Que ninguém se iluda! Isso sempre existiu e sempre vai existir. Basta visitar vários lares de idosos em Portugal e rapidamente se vai descobrir casos semelhantes.

A Humanidade não presta! É abjeta, sem escrúpulos, animalesca, egoísta e miserável.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Não Matarás - Júlia Navarro

 

Confesso ser um apreciador dos romances de Júlia Navarro, sobretudo os romances históricos, pois, para além da autora saber criar uma narrativa, consegue sempre construir e transmitir os acontecimentos históricos, situando-nos no contexto e, criando igualmente uma narrativa onde diversos personagens se vão interrelacionando em narrativas separadas mas que têm sempre elos em comum.

Este seu último romance “Não Matarás” vem assim nessa linha e situa-nos no após Guerra Civil Espanhola, onde nos transmite a profunda separação que sucedeu depois do seu término, entre vencedores e vencidos onde, estes últimos, vivam em pânico aguardando, a qualquer altura, ser fuzilados ou ver os “seus” homens fuzilados.

É uma fase muito interessante de uma Espanha destruída, física e moralmente, tentando-se reerguer de uma guerra fratricida que iria deixar marcas profundas na sua sociedade.

Assente, essencialmente, em três personagens, surge um vasto panteão, onde a autora consegue criar perfis psicológicos diversos e é interessante seguir a sua evolução.

A Acção temporal é longa.

Inicia-se pós Guerra Civil Espanhola (1939) e termina cerca de 40 anos depois.

Durante esse tempo, há acontecimentos marcantes do século XX, mas que e essa é a primeira crítica que faço, são pouco ou nada explorados.

Por exemplo, a Guerra de 1939-1945 é vista como algo muito longínqua que pouco ou nada afecta os acontecimentos do livro.

E porquê?

Porque a autora centra a sua história nesses três personagens, sobretudo em dois, colocando-os numa redoma e pouco saindo daí.

A meu ver, falha redondamente, tornando o livro maçudo, demasiado extenso e muito repetitivo.

Não faz sentido 1000 páginas. 500 Páginas seriam mais do que suficientes para narrar aquela história.

Depois há acontecimentos que são tão repetitivos que chegam a roçar o ridículo.

 Há alguém que passa todo o santo livro a perseguir alguém que não quer nada com ela. Foge dela, causa-lhe asco e isso é cansativamente transmitido. Porém, insiste e insiste e insiste. Se a ideia da autora era mostrar que alguém importante é na sua essência um canalha, isso é logo conseguido no início, era escusado tanta insistência. É irritante!

Mas há mais factos sem grande coerência que me vou escusar de mencionar, até porque não me quero alongar sobre a história.

Em suma, um livro interessante que até se lia rapidamente face à simplicidade da escrita, mas que se torna maçudo e aborrecido, prolongando a sua leitura, pois dei por mim a só conseguir ler 3, 4 páginas por dia, por desinteresse.


sexta-feira, 27 de novembro de 2020

A mulher que escreveu a Bíblia – Moacyr Scliar

 

Que livro espectacular!

Livro curto (160 páginas), mas de enorme Qualidade. Arrisco mesmo a dizer que é um dos melhores livros que li este ano, senão mesmo o melhor.

Uma narrativa surpreendente, com uma linguagem simples e muito visual, começa por contar a história de uma jovem mulher que, após uma desilusão, recorre à ajuda de um terapeuta de vidas passadas, descobrindo que, há três mil anos foi uma das centenas de esposas do Rei Salomão. Encerrando-se sobre si mesma, resolve empreender a narração da sua passada vida e é, dessa forma, que conhecemos a sua fascinante aventura que a leva à primeira versão do Antigo Testamento.

Narrada sob o ponto de vista de uma mulher, a nossa heroína, que de tão feia se tornava grotesca, vê nas letras o seu escape para a sua infelicidade e, após casar com o rei Salomão, é incumbida pelo poderoso rei e esposo de empreender a escrita de uma obra que irá perdurar no tempo: o livro sagrado.

Embora o assunto seja algo delicado, o autor consegue criar uma narrativa credível mas impressionantemente irónica e mordaz, com laivos de erotismo, onde a linguagem vernácula abunda mas em que nunca nos sentimos incomodados.


Mas vai muito mais longe.

Não esquecendo que é um livro onde a mulher é personagem principal, o autor tece críticas à importância do aspecto visual em detrimento do intelecto, bem como a uma sociedade marcantemente machista e patriarcal que marca indelevelmente a religião ocidental. Sempre numa perspetiva feminina o que, confesso, me surpreendeu.

A sexualidade feminina também é realçada de uma forma, diria, sem filtros, divertida e descontraída.

Em suma, é uma obra exepcional que toca em vários assuntos, sempre de uma forma irónica, mordaz e muito divertida, mas que nunca choca, antes pelo contrário, leva-nos a dar grandes gargalhadas e a simpatia pela personagem vai em crescendo até ao epílogo.